Manual de instruções da Carla

O Sr. Pedro Oliveira deu-me uma excelente ideia num comentário ao post anterior. Criar um manual de instruções para entregar a pretendentes amantes do picante. Trata-se de uma iniciativa de louvar já que os senhores ficam assim a saber à partida se conseguem lidar com a que vos escreve.

Então, aqui vai o manual:

1 - Não sujeitar o espécime carlas picantus a luz intensa (sobretudo artifical, mas também natural) nem a ruídos incómodos (provenientes maioritariamente de aparelhos radiofónicos). Sugere-se o uso de headphones e habitat com iluminação ambiente de tons amarelos (ATENÇÃO: as luzes brancas fortes provocam uma reacção imprevisível neste espécime que poderá resultar em situações de perigo para o utilizador. Proceder com cautela!)

2 - A carlas picantus é um ser noctívago que desenvolve a maioria das suas actividades em ambiente nocturno. Tem pouca tolerância quando acordada antes das 11 da manhã, a não ser que seja para encetar períodos de migração sazonais. Carlas picantus gosta da sua toca, mas por uma questão de sobrevivência, é imperativo que se desloque para outras paragens, no mínimo, duas vezes por ano. O utilizador deverá ser, portanto, adepto de tais deslocações e cumprir os requisitos físicos mínimos para aguentar estes períodos de tempo fora do habitat natural.

3 - Carlas picantus é um espécime omnívoro. Tem predilecção por alimentos com elevados teores de sacarose, mas também é adepta do repasto local, como cozido à portuguesa, feijoada, dobrada, peixe assado no forno, carapaus com molho à espanhola. No entanto, é um ser facilmente adaptável a outros tipos de alimentação, motivo pelo qual sempre se adaptou excepcionalmente bem a novos habitats e às suas faunas e floras locais (italiana, chinesa, japonesa...). Adverte-se, no entanto, o utilizador para a importância de não deixar este ser passar fome, pois as consequências poderão ser devastadoras. Aconselhamos que transporte sempre consigo, em todas as alturas, chocolate ou salgados (rissóis, croquetes, umas chamuças também não ficam mal) para prevenir. Felizmente, se o utilizador for um exímio provedor alimentício da carlas picantus terá grandes hipóteses de sucesso na convivência com este ser.

4 - Acredita-se que picantus, para os membros restritos do grupo, descende da preguiça, animal conhecido pela sua mandrice. Há também um grupo de cientistas que defende a tese de que um antepassado de carlas picantus terá sido mordido pela mosca tze tze, tendo o seu poderoso veneno afectado o código genético do referido antepassado e, consequentemente, toda a sua descendência. De qualquer forma, carlas picantus aprecia o seu sono de beleza e precisa de dormir 8 horas, no mínimo, por dia. Aconselhamos o utilizador a não perturbar estes momentos de descanso a não ser que pretenda proporcionar-lhe momentos significativamente mais prazerosos.

Em suma, carlas picantus é um espécime que prospera em qualquer habitat desde que convenientemente alimentado e descansado e onde haja bom isolamento sonoro e baixa luminosidade. É ainda surpreendentemente autónomo, sobrevivendo tanto em ambientes grupais como durante longos períodos de tempo em isolamento. Convive bem com outras espécies animais e aprecia uma flora luxuriante. Se, mesmo assim, o utilizador verificar dificuldades na interacção com a picantus, sugerimos uma oferenda (bolo de brigadeiro e gelado de banoffee tiveram resultados surpreendentes). Nos dias em que este ser demonstra particular aversão ao ambiente circundante e, por consequência, ao pobre do utilizador, experiências envolvendo frango com muito picante têm revelado um elevado grau de eficácia. ATENÇÃO: Recorrer a este método apenas em situações excepcionais, já que o utilizador poderá não aguentar a comoção que daí advém.